São Luís do passado e do presente retratada em obras literárias de escritores maranhenses

  • 08/09/2024
(Foto: Reprodução)
O g1 listou sete obras de ficção publicadas do século XIX ao século XXI, que mostram traços importantes da cultura, religião, economia, infraestrutura e da própria sociedade e seus costumes ao longo dos séculos. São Luís do passado e do presente retratada em obras literárias de escritores maranhenses. Meireles Junior Neste dia 8 de setembro, São Luís completa 412 anos de fundação e, para comemorar esta data, o g1 listou sete obras literárias de escritores maranhenses, que têm a capital como cenário. Clique e se inscreva no canal do g1 Maranhão no WhatsApp São obras de ficção publicadas do século XIX ao século XXI, que mostram traços importantes da cultura, religião, economia, infraestrutura e da própria sociedade e seus costumes ao longo dos séculos. Cada obra selecionada traz consigo, para além da narrativa ficcional, elementos que ajudam a entender a São Luís do passado e do presente. Em entrevista ao g1, o historiador Henrique Borralho, que é professor do curso de História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pós-doutor em Teoria Literária, destaca que a literatura não é, necessariamente, uma fonte histórica, porque está no campo das artes e não da ciência. Porém, apesar de ser uma produção feita no campo da ficcionalidade, em certos aspectos, a literatura pode ser tomada como fonte histórica, ao auxiliar na compreensão da condição humana, uma experiência que acontece no espaço e no tempo. “Quando a história trabalha com a literatura enquanto fonte histórica, ela não está trabalhando a noção da verdade em si, como se aquilo tivesse acontecido em termos de uma personagem histórico, um acontecimento dado com exatidão, mas a experiência está no campo das relações humanas, e o que importa para a história, nesse aspecto, é como a literatura faz o repertório da experiência humana, da vivencialidade humana, porque ela é fruto de um sentimento coletivo, individual, fruto de pensamento de uma época, fruto de uma inspiração, ou seja, existem traços legíveis que podem ser compreendidos como sendo o espírito de uma época”, explica o historiador. Borralho destaca que a literatura ajuda a analisar, por exemplo, a construção da nacionalidade, a “invenção” dos indígenas, a discriminação em relação aos escravizados, o impacto da ciência, etc. “Então, o resultado é que, em cada época, a literatura se reporta a um espírito de época, a circunstâncias que podem ser dadas na dimensão humana, que ainda que não tenha nome específico, são interpretadas como sendo vestígios, traços, características de um determinado período. Nesse aspecto, a literatura é uma fonte histórica”, destaca o professor. Sobre as obras literárias que trazem São Luís como cenário, o historiador analisa que a cidade foi romantizada em vários momentos, em várias épocas e, por ser a capital do estado, teve lugar de destaque nas produções literárias. “São Luís sempre foi um cenário muito característico de uma ideia, de uma romantização do Maranhão, porque o Maranhão foi, muitas vezes, interpretado a partir de São Luís, por ser a capital e porque ela congregava figuras de todos os lugares da província e depois do Estado. Então, como a construção da identidade nacional passou pela capital, porque ela foi traduzida como ilha do Maranhão, então uma ideia de Maranhão passou por São Luís, então ela foi o lugar privilegiado da literatura maranhense”, comenta. Ao se debruçar por obras literárias, que trazem traços do passado da capital maranhense, o leitor pode, de certo modo, compreender melhor o presente, pois, como aponta o professor Henrique Borralho, o presente, na verdade, é uma sucessão do ontem. “Tudo que está posto hoje é consequência do ontem. Como as coisas são muito lentas do ponto de vista da mudança, da estrutura mental, daquilo que os historiadores chamaram primeiro de História das Mentalidades e hoje eles chamam de História Cultural, História das Ideias, a compreensão que se tem da vida social é fruto das relações contínuas, do encadeamento, na verdade, dos fatos. Então, o hoje, ele é um desdobramento de uma linha de repetição, em alguns casos, de mudanças em outros, mas, grosso modo, nós temos muito mais continuidade do que ruptura. Então, indiscutivelmente, a compreensão sobre hoje, se faz a partir do ontem”. Veja, abaixo, sete obras literárias ambientadas em São Luís, que ajudam a compreender o presente da capital maranhense. O Mulato Capa de uma das edições de O Mulato, de Aluísio Azevedo. Divulgação O Mulato é um romance do escritor naturalista Aluísio Azevedo, que era caricaturista, jornalista, romancista e diplomata. Aluísio nasceu em São Luís, em 1857, e morreu em Buenos Aires, Argentina, em 1913. A obra O Mulato foi publicada em 1881 e o seu título faz referência ao protagonista, Raimundo, um mulato bastardo que nasceu em uma fazenda no interior do Maranhão. Raimundo é filho de José Pedro da Silva, que era fazendeiro e comerciante português, com a escrava Domingas. Quando José se casa com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, a mulher, desconfiada da relação do marido com Domingas, pede para açoitar a escrava e ainda queimar suas genitais. Diante disso, José leva Raimundo para a casa de seu irmão Manuel, em São Luís. Quando José volta à fazenda, encontra a esposa na cama com o Padre Diogo e a mata sua esposa. Depois o fazendeiro faz um pacto com o padre para que ninguém fique sabendo do ocorrido. José acaba sendo morto a mando do Padre Diogo. Com a morte do pai, Raimundo, ainda criança, vai para Lisboa, em Portugal, onde se forma em Direito. Quando retorna ao Brasil, ele vai morar no Rio de Janeiro e, decidido a encontrar seu tio Manuel Pescado, Raimundo viaja ao Maranhão. A princípio, Raimundo queria saber sobre sua infância e origem e, também, ficar em posse da herança deixada por seu pai. Raimundo acaba se apaixonando pela filha de Manuel, Ana Rosa. Mas Manuel pensa em casar a filha com um de seus empregados, o Cônego Dias. Sendo assim, não concede a mão de Ana para Raimundo. Com a recusa, Raimundo começa a desconfiar que o fato está associado com sua origem e cor de pele. Ana Rosa, que também nutre sentimentos por Raimundo, resolve fugir com ele, mas uma grande tragédia abala a vida do casal. A obra O Mulato apresenta uma forte crítica social. Por meio de seus personagens estereotipados, Aluísio aborda temas de destaque na São Luís da época, como o preconceito racial, a escravidão, a hipocrisia do clero e ainda o provincianismo, mostrando como os interesses, a futilidade, a imoralidade e a discriminação estavam acima de tudo. E o que chama muito atenção no livro é a forma como Aluísio Azevedo descreve a cidade de São Luís, trazendo, além das características sociais, culturais e econômicas, traços do clima, como o calor. Veja um trecho da obra: Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem-cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho. Os Tambores de São Luís Capa de uma das edições de Os Tambores de São Luís, de Josué Montello. Divulgação A obra é do escritor Josué Montello, que é considerado um dos mais importantes prosadores brasileiros do século XX. Nascido em São Luís, em 1917, Montello foi autor de diversas obras. O romance “Os Tambores de São Luís”, publicado em 1975, é uma das obras mais famosas do escritor. O livro narra a ida do negro Damião, personagem principal, à casa de sua bisneta, para ver o seu trineto nascer. Partindo a pé pela cidade de São Luís, por não ter encontrado um carro de aluguel, o senhor de 80 anos traz em suas memórias a sua saga, desde sua infância como escravo até a vitória dos negros, quando finalmente são libertados. O livro se chama Os Tambores de São Luís, porque durante todo o trajeto que Damião percorre até a casa da sua bisneta, ele sempre ouve o bater dos tambores da Casa das Minas. O romance mostra como vivia a sociedade ludovicense da época, destacando como era o cenário cultural, político e econômico da cidade, o dia a dia das fazendas, a relação senhor/escravo, a discussão da real face das leis contra a escravidão, que foram surgindo, como a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários. O livro também faz uma descrição detalhada dos casarões do Centro Histórico e leva o leitor a fazer um passeio turístico pela São Luís do período oitocentista imperial. Os degraus do paraíso Capa de uma das edições de Os degraus do paraíso, de Josué Montello. Divulgação A obra que, também, é de Josué Montello foi publicada em 1965 e conta quando chega a iluminação elétrica na cidade que, em seguida, é afetada pela gripe espanhola, além de retratar o fanatismo religioso na sociedade. "Depois, como se a nova luz da noite as atraísse, começaram a chegar as más notícias do Norte, do Centro e do Sul. A morte andava lá fora matando às cegas. Um arrepio de frio, febre alta, delírio, e o que até há pouco não era nada passou a ser o desespero e a sepultura. Dezenas, centenas de casos, destruindo famílias inteiras de um dia para outro, no Rio de Janeiro. Ninguém tinha sossego. E era mais quem perguntava: quando a morte chegaria em São Luís? Toda gente se entreolhava, apegando-se aos seus santos. E as lâmpadas elétricas, nos negros postes de iluminação urbana, tinham um ar de espanto – que amedrontava.” Na obra Os degraus do paraíso a personagem principal é Mariana, uma mulher com uma fé obsessiva, a ponto de apostar as suas forças na formação do filho Teobaldo em padre. Porém, o jovem acaba morrendo atropelado por um dos poucos veículos que transitava por São Luís no início do século 20. Com a morte de Teobaldo, Mariana entra em depressão profunda, que se agrava após o contágio da gripe espanhola. É quando Mariana começa a ser tratada por uma enfermeira evangélica, em visitas diárias, e acaba se tornando protestante fanática. Com a conversão radical de Mariana à religião evangélica, ela renega a filha Cristina, irmã de Teobaldo, admitida no convento para ser freira. A história da obra se passa em São Luís no ano de 1918 e traz uma crítica ao fanatismo religioso. O autor aborda o período entre as duas grandes guerras mundiais – em que a cidade de São Luís se descoloniza, restituindo-lhe ambiência local. Maria da Tempestade Capa de uma das edições de Maria da Tempestade, de João Mohana. Divulgação O romance é do padre, médico e escritor João Mohana, que nasceu na cidade de Bacabal, no Maranhão, em 1925 e morreu em São Luís em 1995. Como escritor, ele está listado entre os autores brasileiros de maior sucesso de público, com diversos livros seus sendo traduzidos para o espanhol, o italiano e o alemão. Mohana também foi pesquisador da música maranhense e deteve um valioso acervo de centenas e centenas de partituras recolhidas na capital e no interior do Estado. O romance Maria da tempestade, publicado em 1954, é ambientado em São Luís no início dos anos de 1900. A obra traz a história de Bárbara Macedo Sena, filha mais nova e única mulher de seis filhos do casal Godofredo e Elisa. Narrado em primeira pessoa, o livro traz muitas críticas à sociedade ludovicense da época, destacando um cenário no qual os valores familiares tradicionais eram colocados acima dos ideais de independência e liberdade afetiva. A obra retrata como no início do século XX a mulher ainda não tinha voz nem vez e que os padrões sociais dessa época eram alicerçados pelo sistema patriarcal, que as impunham a um papel de total submissão à vontade paterna. Bárbara Sena, a personagem principal do romance, decide ir contra esse sistema patriarcal para viver um amor proibido na então bucólica e moralista São Luís do Maranhão. Ela que, desde menina tinha fascínio pelas tempestades naturais, iria enfrentar as tempestades morais, físicas e psicológicas que a vida lhe reservava. Mas crente de que havia um Deus compreensivo e amoroso a guiar o seu barco em meio a tantas tribulações. Cidade espanto A escritora Clarissa Carramilo com o livro Cidade Espanto nas mãos. Divulgação O livro é o romance de estreia da escritora maranhense Clarissa Carramilo, publicado em 2018. Clarissa nasceu em São Luís em 1989 e é escritora, jornalista e mestre em Ciências Sociais (UFMA). Como jornalista, ela foi redatora do g1 Maranhão. Em Cidade espanto, a narrativa da obra é totalmente ambientada em São Luís e conta a trajetória de Antonela, uma jovem repórter empregada por um site de notícias, que trabalha fazendo a crônica diária da capital maranhense. A cada pauta recebida, Antonela apresenta ao leitor a cidade como uma personagem, em todos os seus matizes. Unindo crônica e poesia, a autora nos convida, desde as primeiras páginas, a embarcar em uma verdadeira jornada pela São Luís contemporânea, mostrando seus aspectos, sociais, culturais e econômicos. Catarina Mina Capa da obra Catarina Mina, de Lenita Estrela de Sá. Divulgação A obre é da escritora Lenita Estrela de Sá, que nasceu em São Luís em 1961 e é romancista, contista, dramaturga, roteirista e poetisa. A autora escreveu o livro Catarina Mina aos 15 anos e, dois anos depois, recebeu o Prêmio Viriato Corrêa, concedido pelo Departamento de Assuntos Culturais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O livro Catarina Mina, publicado em 2017, é uma ficção que fala sobre a vida da famosa escrava maranhense Catarina Rosa Pereira de Jesus, que teria acumulado um grande patrimônio com uma barraca de frutas montada ao pé da ladeira do hoje conhecido Beco Catarina Mina, na Praia Grande. O livro destaca que Catarina veio da região de Costa da Mina (Golfo da Guiné), na África, como escrava para o Brasil e comprou sua alforria graças ao dinheiro recebido de seu trabalho e, segundo contam, dos favores prestados aos comerciantes portugueses endinheirados da Praia Grande. Com a fortuna, comprou também a alforria de muitos de seus amigos. Liberta, tornou-se senhora de escravos, com quem sempre passeava pelas ruas da cidade. Suas escravas a seguiam em cortejo vestidas caprichosamente de rendas e bordados e ajaezadas com muitos colares, pulseiras e brincos de ouro. A dona, à semelhança de suas acompanhantes, vestia finas sedas e brocados, com joias que cobriam colo, orelhas e braços, para estar igual às damas da época. Amores, Marias e Marés Capa do livro Amores, Marias e Marés, de Chico Fonseca. Divulgação A obra é do escritor, arquiteto e urbanista Chico Fonseca, que nasceu em São Luís e, atualmente, mora no Rio de Janeiro. Com o romance de estreia Amore, Maria, Marés, publicado em 2023, o escritor venceu o concurso literário Escritores Admiráveis. Além dessa obra, o autor produz crônicas e poemas para jornais, blogs e mídias sociais. Amore, Maria, Marés é ambientada em São Luís, no ano de 1963. O romance destaca a relação amorosa entre duas mulheres, uma aluna e uma professora de história, o que para aquela época era algo visto com reprovação pela sociedade conservadora da capital do Maranhão. As personagens principais da obra são: Maria Ellena, branca, 26 anos, professora de História e recém-casada com um aristocrata dominado pela mãe; e Mariana, uma jovem afrodescendente de 19 anos. Maria Ellena é surpreendida por uma paixão avassaladora por Mariana, a quem ela está orientando para prestar vestibular para a Faculdade de História. Interessada na importante participação dos negros na construção da sua cidade, Mariana convence a professora a acompanhá-la em suas pesquisas sobre a saga dos seus ancestrais escravizados. A obra mistura a biografia de pessoas que existiram com personagens fictícios, em uma trama que remonta a história da capital maranhense. Além da história contar o amor proibido dessas mulheres, o livro retrata a participação dos negros na construção de São Luís e o papel dos ancestrais escravizados no desenvolvimento da cidade.

FONTE: https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2024/09/08/sao-luis-do-passado-e-do-presente-retratada-em-obras-literarias-de-escritores-maranhenses.ghtml


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